Resenha: PRECISAMOS FALAR SOBRE O KEVIN por Lionel Shriver

Eu realmente não gostaria de estar lendo esse livro quando toda a tragédia de Suzano aconteceu. Estava lá pela metade do livro quando o massacre foi anunciado nos noticiários. É estranho como a história tomou um outro rumo para mim, pois se tornou tão real e palpável, como algo que acontece bem ali na esquina, que foi difícil terminar a leitura. 

É claro que depois de todo o ocorrido, é impossível não se sensibilizar com a narradora da história, Eva, mãe  de Kevin, um psicopata adolescente. 

Através de cartas endereçadas à Franklin, seu marido, e também pai de Kevin, Eva vai descrevendo trechos do passado e seus sentimentos no presente. No começo o livro se mostra lento e não poderia ser diferente... Eva vai retirando aos poucos o véu que cobre a espera de Kevin, os nove meses angustiantes em que não se sentia conectada ao próprio filho; descreve aos poucos a infância de Kevin, um menino sempre apático, de poucos interesses que só tinha brilho aos olhos do pai. Kevin é a típica criança, onde logo se detecta uma raiz de maldade tão grande, que é impossível para nós, leitores, não nos sensibilizarmos com a tentativa de Eva em fazer o melhor para o seu filho e tentar de todas as formas demonstrar para ele algum carinho. Mas para isso, seria necessário que seus olhos estivessem completamente fechados para todas as situações estranhas com que o garoto vai se envolvendo.


Então leitores, se quiserem ler a obra, tenham bastante calma. Não é uma leitura fácil e agradável... mas aos poucos você consegue entrar no ritmo da história. A autora teve essa ideia fantástica de expor aos poucos a mente de um garoto desde novo perturbado, tudo isso pelos olhos da figura materna.

É muito estranho como temos o aspecto do outro lado... não do sofrimento das vítimas que foram dizimadas por um garoto. O outro lado da moeda foi mostrar os sentimentos da mãe, aquela encarregada de amar, cuidar e educar seu filho. As culpas que ela carrega por se perguntar o que pode ter feito de errado e sua carga emocional quanto ao fato de nunca ter se apaixonado verdadeiramente por seu filho, mesmo havendo tantos motivos para isso.

Eu não sei dizer meus reais sentimentos por esse livro. O que posso dizer é que a autora é brilhante em sua escrita, que por sinal, é bastante rebuscada e cheia de detalhes que têm a missão de se encaixarem completamente no final da trama. Não foi nada fácil fazer essa resenha e expressar o que essa obra causou em mim... mas sem dúvidas, é uma obra-prima da triste realidade que tantos jovens e suas famílias enfrentam. A liberdade é apenas uma ilusão quando pensamos que nem em uma escola nossos filhos, parentes e amigos estão protegidos.

Essa foi a nossa resenha de hoje! Alguém mais já conhece o marcante Kevin??? Um grande abraço meus Eventuais!